Capítulo Seis
Catherine fechou a cozinha para a noite. Embora o forno e o fogão já estivessem frios há horas, ela ainda queimava de raiva. Dois dias. Já tinham se passado dois dias desde que seu parceiro disse que conversariam. Ela praticamente viveu no bar nas últimas duas noites, recusando-se a ir para casa até as primeiras horas da manhã, depois de perceber que não tinha dito a ele onde morava nem dado seu número de telefone. Na primeira noite, ela se sentiu rejeitada. Na segunda noite, ela se sentiu magoada. Esta noite... Ela estava furiosa. Como ele se atreve? Quem ele pensa que é?
Murmurando para si mesma, ela pegou o jantar que havia preparado, loco moco com cogumelos ostra, e passou pela porta que levava do corredor dos fundos para a parte de trás do bar. Juno olhou para ela e piscou antes de voltar a misturar o coquetel que estava criando. Catherine resmungou sozinha antes de se sentar no último banco do bar, apoiando a cabeça na mão. Ela espetou o ovo frito e comeu vorazmente. Ela olhou com irritação para seu prato, um dos seus favoritos que não conseguia realmente apreciar graças ao seu despreocupado parceiro licano.
“Você tem que me contar o que está te incomodando,” disse Juno, olhando para ela do outro lado do bar. “Estou ocupada demais para lidar com seu mau humor esta noite.”
““E se eu não quiser falar, hein?” Catherine retrucou, deixando a raiva escorrer na voz.
Os olhos de Juno se arregalaram ligeiramente com o tom dela, mas ela sorriu mesmo assim. “Se você não contar, não vou te servir esta noite,” disse, levantando o copo de tequila que já havia servido para Catherine.
Catherine rosnou e olhou feio para sua amiga. “Tá bom. Conheci meu parceiro,” disse, estendendo a mão para pegar o copo.
Juno engasgou e puxou o copo para fora do alcance dela, derramando um pouco no chão. “O QUÊ?!” Juno gritou. Catherine gemeu e deslizou os cotovelos para frente no bar para deitar a cabeça. “Jenny, cobre pra mim,” Juno gritou antes de pegar as mãos de Catherine. “Por que você não me contou?”
Catherine suspirou e sentou-se mais ereta, sorrindo para o tequila que Juno finalmente entregou. Ela tomou um grande gole. “Ele disse que viria falar comigo.”
“Hoje mais cedo?”
“Há duas noites.”
“Que droga.”
“Pois é.”
“Quando você o conheceu? Onde? Como? Vocês fizeram?”
Catherine riu, apesar de si mesma. Ela não tinha contado a Juno porque ela estava de folga no dia em que deveriam se encontrar e depois disso... bem, ela estava envergonhada. “Eu o vi pela primeira vez na feira de agricultores. Ele estava cercado por vários caras de terno, todos cobertos de tatuagens.”
Juno se endireitou com isso. “Tatuagens? Eles eram...” ela abaixou a voz. “Eram licantropos?”
Catherine assentiu, não gostando da expressão no rosto da amiga. “Eram quatro juntos. Um era enorme, com tatuagens subindo pelo pescoço e nas mãos e tal. Outro com tatuagens aparecendo por baixo da gola da camisa e outro idiota com uma tatuagem bem no rosto...”
“Stuart,” Juno assentiu. Seu rosto empalideceu. “Catherine, a tatuagem no rosto não era do seu...”
“Não, graças à Deusa.”
Juno soltou um suspiro de alívio. “Ainda bem. Ele é o filho do Alfa. Um verdadeiro babaca. Ele vem aqui de vez em quando. Ouvi dizer que largou a parceira de verdade e agora se atira em qualquer mulher viva, bebendo até cair. É expulso mais vezes do que não.” Ela estremeceu. “Seu parceiro tinha muitas tatuagens?” ela perguntou, parecendo nervosa.
Catherine pensou sobre isso. “Não que eu tenha visto.”
Juno sorriu. “Ótimo, ótimo.”
“Por quê?”
Ela deu de ombros. "Parece que eles são os Lycans de Blackmoore. Agora só existem quatro alcateias de lycan no país, você sabe. Os líderes da alcateia de Blackmoore, alfa, beta, guerreiros e tal, estão cobertos de tatuagens para todas as pessoas que eles mataram. Quanto mais tatuagens, mais assassinos. Você sabe que meu Febre de Sábado à Noite é um lycan, mas não tem tatuagens. Parece que você teve sorte. Talvez o seu cara seja apenas o motorista ou algo assim."
Catherine pensou na maneira como Graham pegou aquele tal de Stuart e se recusou a ser intimidada. Stuart mencionou que Graham era um subordinado, mas ela teve a impressão de que era mais uma questão política do que prática. Seu parceiro parecia que poderia quebrar aquele graveto. No entanto, ele não tinha tatuagens... pelo menos nenhuma que ela pudesse ver.
Ela sabia sobre a alcateia de Blackmoore, ou pelo menos conhecia a existência deles. Foi por isso que ela se estabeleceu em Sterling. Era o único lugar onde ele não viria procurá-la. Catherine olhou por cima do ombro por hábito. Um par de dedos estalou na frente de seu rosto e Catherine se sobressaltou.
"Olá?" Juno riu. "Voltou pra Terra, né?"
"Desculpe."
"Então," Juno disse, pegando um copo para limpar. "Você deveria se encontrar com ele há duas noites e ele não apareceu?" Catherine suspirou e balançou a cabeça. "Que pena. Aqui," Juno disse, entregando-lhe um limão para adicionar à sua tequila. "Eu tenho que voltar ao trabalho."
"Eu posso fazer companhia a ela!" Toma exclamou, deslizando pelo bar em direção a ela.
"Tanto faz, perdedor," Juno brincou antes de sair.
Toma sentou-se na cadeira ao lado dela. "Ela é apaixonada por mim, só não admite o quanto."
Catherine deu uma risadinha. "Todos nós estamos apaixonados por você, Toma."
Toma piscou e Catherine se permitiu dar uma olhada nele. Ele era mais baixo que seu parceiro, talvez 1,78m, mas era muito bonito com pele escura e cabelos castanhos encaracolados que desciam até abaixo das orelhas. Ele tinha olhos dourados que se destacavam contra sua tez e que estavam perpetuamente semicerrados de tanto rir. Ele já tinha dormido com quase todas as trabalhadoras do lugar, provavelmente da cidade. Ela mordeu o lábio enquanto ele lhe dava um olhar curioso.
"Você está bem, Chica? Onde está seu grandalhão lycan?" ele perguntou, tomando um gole de sua cerveja.
Catherine rosnou. "Por que todo mundo não cuida da própria vida?"
"Caramba, desculpe!"
"Espera." Catherine agarrou o antebraço dele. Ele congelou com a cerveja a meio caminho da boca. "Como você sabe sobre ele?"
"Ah." O rosto dele ficou de um tom vermelho fofo. "Ele basicamente disse que, se eu encostar em você de novo, ele me mata." Toma deu de ombros e a boca dela se abriu.
"Que idiota!"
"Não é bem a palavra que eu usaria, mas sim." Toma riu.
"Ele provavelmente percebeu que eu te achava gostoso," ela sussurrou. Ao lado dela, Toma cuspiu a cerveja. Catherine olhou para sua tequila. Ela só tinha bebido metade do copo, mas os efeitos já estavam se espalhando pelos nervos dos braços e pernas. Seu cérebro estava confuso e ela sentia que poderia cair do banco se não tivesse cuidado.
"Quanto você já bebeu?" ele perguntou, tomando a tequila antes que ela respondesse. Ele a bebeu e bateu o copo no bar antes de fazer uma careta. "Que nojo."
Catherine tentou olhar feio para ele, mas teve que se segurar no bar para não balançar. Ela colocou a mão na cabeça. No fundo de sua mente, ela podia ouvir vagamente Toma perguntando se ela estava bem. Ela tentou falar, para tranquilizá-lo, mas sua voz estava presa na garganta. Toma chamou por Juno. Então sua visão ficou preta.
