# Capítulo 1
Ponto de Vista de Kira
"Puta merda."
As palavras não eram minhas, mas ecoaram na minha mente com uma clareza cristalina. Eu congelei no meu quarto, com um braço pela metade na manga do casaco. Estava correndo para a minha consulta pré-natal no centro médico quando a sensação me atingiu — um pulso quente através do nosso vínculo que não era para mim.
Oh, Deus. Ah, não. Minha visão começou a ficar estranha, como se alguém estivesse me puxando para um túnel mental. Não, estava acontecendo de novo — aquela coisa esquisita do vínculo de companheiro onde às vezes eu podia sentir o que Rocco estava sentindo. Exceto que... oh, Deus, não... isso não eram apenas emoções.
Faça parar. Eu não quero ver isso. Por favor, eu não quero—
Meu cérebro não ouvia. As imagens inundaram, claras como cristal e completamente devastadoras.
Rocco. Meu companheiro. Meu marido. O pai do meu filho não nascido.
Ele estava nu, seu corpo poderoso se movendo ritmicamente acima de outra mulher. Suas mãos seguravam as coxas dela, abrindo-as enquanto ele a penetrava com força brutal. A estrutura da cama batia contra a parede a cada movimento, o som perfeitamente sincronizado com meu coração acelerado.
"Mais forte," a mulher gemeu, sua voz estranhamente familiar. "Não se segure."
Meu estômago revirou quando finalmente vi seu rosto. Era... eu? Não, não exatamente. Seus traços espelhavam os meus, mas seu corpo era mais cheio, mais vibrante onde a gravidez me deixou cansada e inchada.
Não. Não. Não. Meus joelhos fraquejaram e eu me agarrei à cômoda para me manter de pé. Isso não pode estar acontecendo. Meu peito se apertou tanto que eu não conseguia respirar.
O quarto girava ao meu redor enquanto a bile subia na minha garganta ao ver meu marido, as mãos de Rocco amassando os seios da mulher com força, sua boca sugando seus mamilos enquanto ela arqueava sob ele. Seus dentes roçaram o pescoço dela — bem onde estava minha marca de acasalamento — e ela respondeu envolvendo as pernas mais apertadas ao redor da cintura dele, seus quadris subindo para encontrar cada investida.
"Seu corpo é muito melhor," ele rosnou no ouvido da mulher, e o vínculo entre nós tremia.
As palavras me cortaram como lâminas de prata. Eu me dobrei, um som estrangulado escapando dos meus lábios — parte soluço, parte grito enquanto uma dor aguda atravessava meu abdômen, como se alguém tivesse enfiado uma faca de prata no meu útero. Eu ofeguei, segurando minha barriga enquanto a visão continuava, implacável em sua clareza.
O vínculo — nosso vínculo de acasalamento — estava se desfazendo. Eu podia sentir cada fio espiritual se rompendo um a um, como fios elétricos sendo cortados, cada quebra enviando uma dor elétrica pelo meu corpo.
Isso não pode estar acontecendo. Companheiros Alfa são para sempre. O vínculo é sagrado. Os pensamentos caíam inutilmente na minha mente enquanto outra contração me dominava. Ele prometeu. Ele jurou diante da deusa da lua. Ele me marcou.
Eu cambaleei em direção à porta, meu treinamento médico entrando em ação apesar da devastação emocional. Algo estava errado com o bebê. Com apenas dois meses, minha gravidez ainda era frágil, apesar da gestação acelerada dos lobisomens.
Minhas mãos tremiam tanto que eu mal conseguia segurar as chaves do carro. Nosso bebê. Nosso filho. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, borrando tudo. Por favor, pequeno, aguente.
No carro, eu agarrei o volante com os nós dos dedos brancos, tentando me concentrar na estrada em vez da visão contínua do meu marido com... quem era ela? A semelhança era impressionante. Poderia ser...?
"Oh, sim, assim mesmo, Kim," Rocco gemeu na minha cabeça. Era ela. Eu não a via há anos.
Outra onda de dor me atingiu, e eu senti algo quente escorrer pelas minhas coxas. Não, não, não. Não meu bebê. Por favor.
"Fique comigo," eu implorei, pressionando uma mão contra meu abdômen. "Por favor, bebê, não me deixe também. Eu não posso perder vocês dois. Eu não posso—"
Através do vínculo, eu senti o prazer de Rocco crescendo. Seus movimentos se tornaram mais urgentes, sua respiração ofegante. A mulher — Kim — estava gritando sob ele, suas unhas deixando marcas vermelhas nas costas dele.
"Estou perto," ela arfou, e ele rosnou em resposta.
Eu mal conseguia ver a estrada agora, as lágrimas embaçando minha visão tanto quanto a dor. O centro médico estava logo à frente, seu edifício moderno um farol de esperança. Meus instintos de lobo estavam gritando, me instigando a ir mais rápido, a salvar nosso bebê.
"Kim, sim..." Rocco rugiu enquanto chegava ao clímax, o som ecoando através do nosso vínculo.
Naquele exato momento, uma dor lancinante rasgou meu abdômen. Era como se estivesse sendo dilacerada por dentro. Gritei, um som primitivo de pura agonia. O vínculo entre nós—a conexão sagrada que nos unia como parceiros—se quebrou. O volante puxou sob minhas mãos, e o carro deslizou de lado, parando contra um guard-rail logo fora do centro médico.
Umidade quente encharcou meu jeans. Minhas mãos tremiam ao tocar a umidade. Sangue. Tanto sangue.
"Por favor, por favor, deusa da lua, não deixe que ele me deixe, meu filhote," soluçava, tentando abrir a porta do carro com forças que me faltavam. A escuridão se fechou de todos os lados, me engolindo por completo.
Acordei com uma luz branca ofuscante e o cheiro estéril de ervas curativas. O centro médico. Uma figura de jaleco branco estava ao lado da minha cama, a pequena lua crescente bordada no bolso identificando-o como parte da equipe médica dos lobisomens.
"Lucas," eu murmurei, reconhecendo meu velho amigo e colega de faculdade. Minha garganta estava áspera, como se eu tivesse gritado por horas. Talvez tenha mesmo.
Sua expressão era grave. "Kira, sinto muito. Não conseguimos... salvar o filhote."
Não! Meu filhote.
As palavras me atingiram como uma bala de prata direto no coração. Meu corpo inteiro ficou frio, depois quente, depois entorpecido. Meu bebê. Meu pequeno lobo. Acabou.
Eu me encolhi, abraçando desesperadamente meu ventre agora vazio.
Meu bebê. Meu bebê. Meu bebê. As palavras continuavam se repetindo na minha cabeça, inúteis e quebradas.
"Não," sussurrei, balançando a cabeça violentamente. Lágrimas embaçaram tudo, escorrendo quentes pelo meu rosto. "Não, verifique de novo. Por favor. Talvez ainda esteja—" Minha voz falhou.
Por quê? Por que meu bebê? O que ele fez de errado? Eu não conseguia respirar. Cada soluço parecia rasgar algo dentro de mim.
Lucas colocou uma mão gentil no meu ombro, e eu me afastei. Não conseguia suportar ser tocada, não agora. Minha pele arrepiou onde seus dedos tocaram. Tudo doía. Tudo.
É minha culpa. Eu deveria ter protegido melhor. Eu deveria ter sido mais forte. Minhas unhas cravaram nas palmas das mãos até sentir umidade—sangue. Eu não me importava. A dor física não era nada comparada ao que estava acontecendo por dentro.
Quando finalmente consegui falar novamente, minha voz estava áspera, arranhada de tanto chorar. "O que é?" Eu podia ver nos olhos dele, a maneira como ele não conseguia me olhar diretamente. Havia mais. Algo pior, se isso fosse possível.
Lucas suspirou, colocando meu prontuário de lado. "Os testes mostraram... Kira, você tem Síndrome de Rompimento do Vínculo."
"Você está brincando." Minha risada foi amarga, beirando a histeria. "Aquela doença rara das antigas histórias da alcateia? A sentença de morte?" Balancei a cabeça violentamente. "Não. Faça os testes de novo. Isso não é—Eu não posso ter—"
"É real, e é sério." Lucas sentou na beira da cama, seu rosto sombrio. "Quando um vínculo de parceiro se rompe violentamente—especialmente durante a gravidez—pode desencadear uma série de falhas fisiológicas." Sua voz suavizou. "Com tratamentos à base de ervas, você pode ter de um a dois anos. O tratamento será doloroso, semelhante à quimioterapia humana. Ele temporariamente suprimirá suas habilidades de lobo."
Pressionei os punhos contra as têmporas, tentando bloquear suas palavras. Isso não podia estar acontecendo. Não tudo de uma vez. Meu marido, meu filhote, e agora minha vida?
"E sem tratamento?" A pergunta escapou em um sussurro.
"De seis meses a um ano, no máximo. Cada lobisomem é diferente. Você gradualmente perderá suas habilidades até se tornar humana, então..." Ele não precisou terminar.
Olhei para minhas mãos, esperando vê-las tremendo, mas estavam estranhamente imóveis. O choque foi tão completo que ultrapassou o terror e pousou em uma calma estranha e entorpecida.
"Não conte a ninguém," sussurrei. "Meu pai ainda está em coma. A alcateia Silverstone já sofreu o suficiente." Eles não podem saber. Papai não pode saber. Não se ele acordar.
Lucas assentiu relutantemente. "Vou manter sua confidência."
Com mãos trêmulas, peguei meu telefone e disquei o número de Rocco. Talvez se eu contasse a ele sobre minha condição, sobre a perda do nosso filhote... Ele se importaria? Importaria para ele que estou morrendo?
"Kira." Sua voz era fria, profissional. "O que foi?"
Antes que eu pudesse falar, ouvi uma risada feminina ao fundo. "Rocco, volte para a cama. Ainda não terminei com você."
A voz—tão parecida com a minha, mas cheia de vida e felicidade—tomou a decisão por mim.
"Perdi nosso filhote, e quero o divórcio," eu disse friamente, surpresa pela firmeza na minha voz quando tudo dentro de mim estava desmoronando.
Uma pausa. Então uma risada fria. "Brincando, Kira? Por mim, tudo bem. Eu estava esperando por isso."
