Pura, sombria, violência
Passamos pelo bar até os fundos do clube, com Kevin apontando diferentes coisas enquanto caminhávamos.
“Vamos fazer uma visita completa assim que você estiver instalada, mas isso aqui,” ele disse, apontando para um teclado ao lado de uma porta vermelha, “é só para as meninas, claro, com exceção minha e do Luciano.”
Ele me mostrou o PIN, e entramos na sala. Era muito maior do que os vestiários do Thrive. Tinha um tapete vermelho espesso e macio e paredes pretas. Espelhos e mesas de maquiagem alinhavam o espaço, e algumas meninas já estavam sentadas se arrumando. Fiquei feliz por não ser a única que gostava de chegar cedo.
“Ei! Oohhh, é essa a nova garota de quem você estava me falando, Kevin!?”
Uma explosão loira, parecendo uma Barbie, saltou de seu assento e praticamente pulou em cima de nós com seus saltos de 20 centímetros cor-de-rosa. Como ela conseguia não quebrar o pescoço era um mistério para mim. Ela usava um conjunto de sutiã de couro rosa brilhante e shorts curtos combinando. Seus seios pareciam que iam pular no rosto dela e nocauteá-la. Seu cabelo loiro platinado estava preso em um rabo de cavalo alto, e sua maquiagem a fazia parecer um tanto inocente, se você não olhasse abaixo dos ombros para o resto da roupa.
“Eu sou a Candy!” ela disse, me puxando para um abraço que honestamente parecia que eu deveria pagar, considerando o quanto dos seus seios estavam pressionando contra mim.
“É porque você é toda doce e animada e tal?” perguntei antes de registrar o tom claramente rude na minha voz.
“Ha! Exatamente. Doce como Candy e todos querem uma provinha,” ela disse piscando.
“Então, qual é o seu nome?”
“Ah, desculpa. Lilly,” respondi com um meio sorriso.
“Nãããão, querida, você precisa de um nome artístico! Deus sabe que meus pais nunca me chamariam de Candy. Escolhemos nomes artísticos para nos proteger dos esquisitões que tentam se infiltrar em nossas vidas fora daqui.”
“Ah. Bem, eu não tenho um.”
Eu não precisava dizer a ela que Lilly nem era meu nome verdadeiro, então nunca achei que importasse usá-lo nos clubes. Se alguém tentasse me encontrar usando esse nome, não conseguiria. Eu me certifiquei disso.
“Você não foi transferida de outro clube?”
“Sim?”
“Então como você se protegia dos esquisitões? O que teria acontecido se alguém usasse seu nome para descobrir onde você morava?”
“Ah, bem, se alguém fosse esquisito, eu simplesmente dava um soco nas bolas, enfiava os dedos nos olhos deles ou quebrava o braço, ou algo assim,” eu disse, dando de ombros.
Os olhos de Candy se arregalaram, Kevin ficou visivelmente tenso ao meu lado, e só então percebi o quão anormal aquela declaração soava vinda de uma mulher de um metro e meio que deveria ser delicada e sedutora.
Depois do que pareceu uma eternidade, mas provavelmente foi apenas um minuto prendendo a respiração, ela riu—tipo, realmente riu—curvando-se, segurando a barriga, enxugando uma lágrima antes que pudesse arruinar seu rosto perfeitamente maquiado.
"Ok, então seu nome artístico a partir de agora será Violência," ela disse com um sorriso malicioso.
Sim. Eu gosto dessa garota.
Depois que Candy mandou Kevin embora, dizendo que as garotas podiam cuidar disso daqui em diante, conheci as outras e fui levada à minha própria mesa. Tinha tudo que eu precisaria, produtos novos e de alta qualidade. Candy explicou como Luciano garantia que todas as garotas aqui fossem bem cuidadas, com tudo que precisassem para parecerem perfeitas. Então ela me mostrou os guarda-roupas, convenientemente colocados entre cada mesa ao longo da parede. Cada garota tinha seu próprio closet, que eu juro ser do tamanho do meu quarto de hotel. Tinha o mesmo tapete vermelho e paredes pretas com detalhes dourados, e as prateleiras do chão ao teto em todas as quatro paredes estavam cheias de roupas, sapatos e acessórios. Tudo parecia novo, ainda com etiquetas de preço, e após uma inspeção mais detalhada, tudo era do meu tamanho, desde os sutiãs até os sapatos.
"Haha, sim, eu fiquei exatamente assim quando vi meu guarda-roupa pela primeira vez. Tudo aqui é escolhido a dedo para você, geralmente por Kevin. Ele tem um ótimo gosto e uma maneira de entender o estilo de uma garota."
"Kevin escolheu tudo isso para mim?"
"Bem, não exatamente," ela disse, sem nem tentar esconder sua diversão. "Fui informada que seu guarda-roupa foi escolhido a dedo por Luciano."
Por que diabos Luciano faria isso por mim? Como ele saberia meus tamanhos? Eu nem conheço o homem. Sou apenas um caso patético que a irmã dele pediu para ele aceitar, e ele gastou todo esse dinheiro e comprou todas essas coisas pensando em mim? Isso não faz sentido...
Como se não pudesse perceber ou não se importasse com meu colapso interno, Candy pegou minha mão e soltou um gritinho, me trazendo de volta à realidade. Eu estreitei os olhos para a bolha loira de energia que agora puxava peças de roupas para lá e para cá, segurando-as contra meu corpo como se estivesse vestindo uma Barbie em tamanho real.
"Ok, yesssss! É isso. Coloque essa aqui," ela disse, segurando um espartilho de couro preto e uma calcinha combinando.
Depois de vestir o conjunto, combinei com um par de saltos pretos robustos que amarravam em volta das minhas panturrilhas e um colar de couro preto que parecia uma coleira, mas combinava com o estilo. Candy estilizou meu longo cabelo preto em um rabo de cavalo alto e elegante, depois finalizou com um olho esfumado, um toque de blush e rímel. Ela disse que eu não precisava de muita maquiagem porque minha pele era impecável, e ela só queria realçar minhas características, especialmente meus olhos azuis elétricos e lábios rosa suaves.
"Ah, garota, você realmente fez um bom trabalho nela, Candy. Os homens vão devorá-la. Você vai ter alguma competição agora," uma das outras garotas, Ruby, disse atrás de nós, admirando o reflexo no espelho do chão ao teto.
Olhando para mim mesma, fiquei chocada. Eu tinha usado roupas da Stacy e me vestido todas as noites em que trabalhei no Thrive, mas aquelas eram do estilo dela. Isso? O que eu estava vendo agora?
Isso era eu.
Pura.
Sombria.
Violência.
