Mestre de marionetes

Kieran POV

Esse maldito brunch estava indo tão bem quanto eu esperava.

Meu pai estava sentado à cabeceira de uma mesa para vinte pessoas, parecendo a imagem da perfeição enquanto seus colegas e parceiros de negócios chatos tagarelavam sobre coisas entediantes das quais eu não me importava.

Meu terno preto estava perfeitamente ajustado ao meu corpo, e eu parecia o filho perfeito de um milionário... Tudo, exceto pelo meu rosto, é claro.

Tenho certeza de que meu nariz acabou quebrado na noite passada, dado os hematomas ao redor dos meus olhos, e minha sobrancelha estava cortada depois de um gancho de direita de um cara duas vezes maior que eu. Provavelmente eu poderia ter levado alguns pontos, mas essas fitas adesivas seguram o ferimento bem o suficiente para evitar a ida ao hospital.

Hospitais não eram a minha praia.

"Filho," meu pai falou meu nome com o suficiente de desprezo para eu perceber, mas não o bastante para seus colegas notarem. "Você considerou minha proposta?"

"Não."

Suas narinas se dilataram com minha resposta curta e grossa, mas um sorriso fácil surgiu em sua boca, antes dele dar uma risadinha, "Sem problemas. Você vai mudar de ideia um dia."

Emilio Decker era uma cobra. Ele era frio, calculista, e tão sombrio quanto possível. Crescer à sua sombra foi nada menos que um pesadelo, e mais de uma vez, ele me envolveu em suas atividades ilegais.

O simples pensamento de tudo o que eu não sei me deixa enjoado, mas não o suficiente para cavar mais fundo. Eu não quero nada a ver com meu pai, e o momento em que eu começar a investigar é o momento em que entrelaço minha vida com a dele.

Por isso, escolho permanecer ignorante sobre a vida que ele leva, focando na minha própria.

Ele já me jogou de lado por alguém melhor.

"Continue dizendo isso para si mesmo," murmuro, ganhando um olhar fulminante de olhos quase negros.

"Ele ainda é jovem," o parceiro do meu pai, Sebastion, comenta com um sorriso fácil. "Todos eles mudam de ideia."

"O segundo que meu filho viu a quantidade de zeros no banco, ele mudou de opinião imediatamente," outra voz acrescenta.

É, sem chance. Eu poderia ver milhões em dinheiro vivo e ainda assim não colocaria meu pé no mundo do meu pai de bom grado.

Duas horas se passaram, quatro pratos, e mais uísque caro do que a maioria vê em uma vida foi bebido antes de eu finalmente estar livre.

Verifiquei minhas mensagens.

Malcom: Ainda respirando, campeão?

Malcom: Como está o nariz? Você vai ficar menos atraente do que eu se continuar quebrando a cara.

Soltei um tch irritado.

Kieran: Nos seus sonhos, cara

Então, vi a conversa com a Bambi. Dizer que eu estava irritado na noite passada era um eufemismo. Ela cancelou comigo no último minuto. Não o contrário.

Mulheres se matam por uma chance de respirar o mesmo ar que eu, e ainda assim ela cancelou com facilidade, e nem se deu ao trabalho de falar diretamente comigo durante aquele jantar.

Mas minha raiva desapareceu completamente depois que ela chamou aquele cozinheiro, colocando Axel em seu lugar. O cara era abertamente um babaca, mas ninguém se atrevia a falar contra ele.

Bambi fez isso com a cara fechada antes de continuar fazendo seu trabalho como se nada tivesse acontecido. Isso é algo que eu posso respeitar.

Kieran: Você trabalha hoje à noite?

Jogando meu telefone na cama da minha infância, puxei a gola do meu terno, afrouxando a gravata. Eu odiava toda essa porcaria de formalidade. A fachada que meu pai coloca. É tudo uma grande besteira.

Emilio Decker faz o bicho-papão parecer uma fada, e meu irmãozinho está seguindo seus passos como o bom cachorrinho obediente que ele é. É nojento e me dá ânsia.

Eu luto, quase até a morte, mas todos que entram naquele ringue sabem o que estão fazendo e concordam com isso. As escolhas do meu pai são sempre unilaterais, e as vítimas geralmente não têm ideia do demônio que está à espreita nas margens de suas vidas.

Bambi: Eu geralmente não trabalho nos fins de semana. Ontem à noite foi uma exceção.

Bambi: Desculpe por cancelar na última hora.

Bambi: Isso foi rude.

Bambi: Você quer remarcar?

Caramba.

Kieran: Você não podia ter colocado tudo isso em uma mensagem só?

Bolinhas de digitação apareceram e desapareceram.

Bambi: Minhas mãos às vezes se movem mais rápido que meu cérebro (Emoji de mãos cobrindo o rosto)

Sem desculpas novamente. Isso era algo que eu não esperava. A maioria das garotas se atrapalha com milhões de desculpas vazias, como se fosse tudo o que um homem quer ouvir.

Kieran: Então você está ocupada?

Bambi: Estou, mas é algo que pode esperar.

Bambi: O que você tem em mente?

Kieran: Passo aí em vinte minutos

Troquei meu terno abafado por um par de shorts de basquete e uma camiseta de compressão, deixando o terno em um monte na minha cama. Isso irrita meu pai o suficiente para me dar vontade de mijar na droga do terno só para garantir, já que sei que ele vai entrar aqui e pegar para mandar lavar a seco.

Descendo a grande escadaria, fico grato por meu pai não estar em lugar nenhum. Minha mãe está em algum retiro, fingindo desintoxicar enquanto bebe uma quantidade enorme de mimosas e transa com algum pobre e desavisado rapaz da piscina.

"Kieran." A voz profunda do meu pai corta o silêncio, e instantaneamente meus dentes se cerram.

Então muito para não estar em lugar nenhum.

"Pai."

"Olhe para mim quando fala," ele rosna, e como o cachorro quase obediente que sou, eu me viro, encontrando seu olhar severo. Um desconforto desliza pela minha espinha sempre que olho em seus olhos sem alma.

De alguma forma, eu consegui ter olhos azuis, enquanto minha mãe, meu pai e meu irmãozinho todos têm um tom profundo de marrom que se assemelha ao preto.

"Eu te criei melhor do que isso," meu pai balança a cabeça, o desapontamento pairando no ar ao nosso redor.

"Você não me criou de jeito nenhum."

Falo como se não estivesse aterrorizado com o homem à minha frente, mas é uma mentira que conto a mim mesmo toda vez que estou perto dele. Quando chego ao meu carro, toda aquela confiança acumulada se dissipa como a maré recuando.

"Eu te deixei se divertir um pouco," ele dá um passo em minha direção. "Te deixei ir para a faculdade, sair com seus amigos, construir pequenos relacionamentos, mas," outro passo. "Você não pode fugir de suas responsabilidades para sempre."

Um sorriso perverso brinca em seus lábios, "Você tem sorte que o Aeros não é uma decepção."

"Já acabou?"

"Aproveite sua liberdade enquanto pode," ele para de se mover em minha direção. "Tudo vai acabar antes que você perceba."

Não lhe dou o prazer de uma resposta, me virando e saindo com o suave clique da porta. Não quero que ele saiba o quanto conseguiu me afetar.

Assim que a porta do meu carro se fecha, minhas palmas batem contra o volante.

"MERDA." Eu grito. "MERDA. MERDA. MERDA."

Meu peito sobe e desce de forma irregular, e eu quero gritar. Emilio Decker era como um mestre de marionetes, e eu era o tolo na ponta dos fios. Não importava o quão longe eu me afastasse dele, ele tinha a capacidade de me puxar de volta.