Capítulo 5 Capítulo 5
Jessa
Se tem uma coisa em que Noah Carter é bom, é me irritar profundamente.
Juro que ele acorda todas as manhãs planejando novas maneiras de tornar minha vida miserável. Não importa se é em casa, na escola, ou na frente de metade do time de futebol americano—ele sabe exatamente onde cutucar, e faz isso com um sorriso irritante que me faz querer jogar algo na sua cara perfeita e estúpida.
Hoje não foi diferente.
Na verdade, esquece isso. Hoje foi pior.
Tudo começou no corredor cheio de armários fora do ginásio. Jackson e eu tínhamos acabado de sair da aula de Educação Física, e eu já estava de mau humor. Nada como correr voltas na frente de um bando de garotos que só te veem como a piada de uma brincadeira cruel. Eu estava suada, cansada, e tudo que eu queria era chegar na minha próxima aula sem incidentes.
Claro, incidente praticamente era o nome do meio do Noah.
Ele estava encostado na parede com dois dos seus colegas de time, rindo de algo idiota. A camisa do time pendia solta sobre seus ombros largos, o capacete balançando nos dedos como um acessório. Ele parecia o típico quarterback garoto de ouro. E quando seus olhos me encontraram, seu sorriso se transformou em algo perigoso.
“Ei, Lombardi,” ele chamou, alto o suficiente para fazer as pessoas virarem a cabeça. “Cuidado ao passar pela porta. Não quero que suas coxas grossas fiquem presas.”
Por um segundo, o mundo girou de lado.
Eu congelei no meio do passo, o calor subindo pelo meu pescoço tão rápido que achei que poderia explodir. As palavras dele atingiram mais forte do que deveriam, acertando bem na parte mais sensível de mim—a parte que tento tanto esconder sob jeans largos e moletons.
O corredor explodiu em risadinhas. Não todos, mas o suficiente. O suficiente para fazer meu estômago se revirar.
Apertei mais forte os livros, as unhas cravando nas capas. “Uau,” eu disse, minha voz tremendo com aquela mistura perigosa de fúria e humilhação. “Você deve estar tão orgulhoso de si mesmo.”
Noah sorriu, completamente despreocupado. “Ei, só estou cuidando do patrimônio da escola. Essas portas não são baratas.”
Os amigos dele riram de novo, como se ele fosse o cara mais engraçado do mundo.
E eu? Queria que o chão se abrisse e me engolisse inteira.
A questão sobre o Noah é que ele não só provoca. Ele sabe.
Ele sabe o que vai doer, o que vai me deixar acordada à noite, repetindo as palavras sem parar. E a pior parte é que ele nem pisca quando as joga para fora. Ele só observa. Como se estivesse esperando para ver se eu vou quebrar.
E eu odeio que funcione.
Porque a verdade é que eu odeio minhas coxas. Sempre odiei. Odeio o jeito que os jeans apertam demais nelas, o jeito que elas roçam uma na outra no verão, o jeito que todas as garotas nas revistas parecem ter pernas esculpidas em mármore enquanto as minhas parecem... grossas.
Então, quando Noah Carter decide apontar isso na frente de um corredor cheio de gente, não importa se ele quis fazer uma piada. Para mim, é como jogar um holofote na única coisa que eu não suporto em mim mesma.
Passei por ele sem dizer mais nada, minhas bochechas queimando, meus olhos ardendo. Jackson me chamou, mas eu o ignorei. Não ia dar ao Noah a satisfação de me ver chorar.
Cheguei ao banheiro feminino e me tranquei em uma cabine, pressionando a testa contra o metal frio. Meu peito arfava, cada respiração apertada e trêmula.
"Coxas grossas," sussurrei, as palavras amargas na minha língua.
Eu odiava me importar. Odiava que a voz idiota dele ecoasse na minha cabeça, que meu reflexo no espelho do banheiro de repente parecesse todo errado.
Mas, acima de tudo, odiava que, enterrado sob toda aquela dor, havia algo mais.
Algo pior.
Porque a verdade—a verdade feia e vergonhosa—era que Noah Carter podia me chamar de todos os nomes do mundo e eu ainda notaria a maneira como a camisa dele grudava no peito. Eu ainda lembraria do jeito que o cabelo dele enrolava na nuca depois do treino, úmido de suor. Eu ainda sentiria aquele estúpido frio na barriga toda vez que ele olhasse para mim, mesmo que fosse só para dar um sorriso de deboche.
E eu me odiava por isso.
Quando finalmente saí do banheiro, meus olhos estavam secos, mas minha raiva queimava mais do que nunca. Encontrei-o na cafeteria na hora do almoço, sentado com Jackson e o resto do time. Ele não me notou de imediato, ocupado demais reencenando alguma jogada com as mãos enquanto os caras pendiam de cada palavra.
Mas quando seu olhar finalmente pousou em mim do outro lado da sala, seu sorriso se alargou. Ele cutucou Jackson e disse algo que fez os dois rirem.
E eu sabia, sabia, que era sobre mim.
Então fiz a única coisa que podia. Levantei o queixo, passei pela mesa dele sem dizer uma palavra e sentei-me com Mariah no outro extremo da sala.
Mas senti os olhos dele em mim o tempo todo.
Como se ele não tivesse terminado ainda.
Como se ele estivesse apenas esperando a próxima chance de atacar.
Mais tarde, quando cheguei em casa, tranquei-me no quarto e tirei o jeans. Fiquei em frente ao espelho, olhando para as pernas que Noah tinha decidido transformar em piada.
Eram realmente tão ruins assim?
Eram fortes, claro. Músculos de anos correndo, andando de bicicleta, carregando mais do que minha parte justa de compras quando minha mãe trabalhava até tarde. Elas não eram finas como as das garotas nas revistas, mas também não eram flácidas.
"Grossas," murmurei.
A palavra grudava em mim como uma segunda pele.
Sentei na cama, abraçando os joelhos, o peito apertado de frustração. Por que ele sempre tinha esse poder sobre mim? Por que eu não podia simplesmente rir como Jackson fazia quando Noah zombava dele?
Porque não era a mesma coisa.
Jackson era igual a Noah—seu melhor amigo, seu companheiro de equipe. Zombar dele era só brincadeira.
Mas eu? Eu era o alvo. A piada. A irmã sensível que não conseguia levar uma brincadeira.
E talvez ele gostasse disso.
Ou talvez—meu estômago se revirou com o pensamento—talvez ele gostasse de mim.
Não. Impossível. Noah Carter não gostava de mim. Se gostasse, provavelmente me odiava. Tinha que ser isso.
Então por que parecia que havia mais nisso?
Por que às vezes eu o pegava me olhando quando ele achava que eu não estava vendo? Por que seus insultos sempre acertavam em lugares que ninguém mais parecia notar em mim?
Era quase como se... como se ele me visse.
E esse era o pensamento mais assustador de todos.
Caí de costas na cama, olhando para o teto.
Uma coisa era certa: eu não ia deixar ele ganhar.
Se Noah Carter achava que podia continuar me derrubando com comentários estúpidos, ele tinha outra coisa vindo.
Eu ia mostrar para ele.
Eu não sabia como, ainda não, mas eu iria.
Porque mesmo que minhas coxas fossem grossas, minha pele estava prestes a ficar mais grossa.
E da próxima vez que ele tentasse me quebrar?
Eu estaria pronta.
