Capítulo 4 Capítulo 4
Noah
O problema de mentir para si mesmo é que, eventualmente, a verdade vem à tona.
Tenho dito a mim mesmo há anos que implico com a Jessa porque é fácil. Porque ela é reativa, e eu gosto do jeito que ela fica atrapalhada. É só isso. Simples.
Mas não é.
Se eu for honesto—e quase nunca sou, nem mesmo na minha própria cabeça—isso começou muito antes dela se tornar a "sensível Jessa."
Começou no ensino fundamental.
Naquela época, Jessa era diferente. Não irreconhecível—ela ainda tinha os olhos escuros, o cabelo bagunçado, a língua afiada—mas ela ria mais. Ela espirrava água pelos dentes no Jackson durante o almoço, ou corria com a gente até a loja da esquina depois do treino e, de alguma forma, sempre ganhava, mesmo que suas pernas fossem metade do tamanho das nossas.
Ela não era invisível naquela época. Ela não tentava ser.
Eu a notei antes mesmo de perceber que estava notando. O jeito que seu sorriso curvava mais do lado direito. O jeito que ela franzia o nariz quando se concentrava. O jeito que ela nunca recuava, mesmo quando deveria.
Eu gostava disso.
Demais.
E isso me assustava pra caramba.
Porque ela era a irmã gêmea do Jackson. E o Jackson é o meu cara—meu quarterback, meu irmão de outra mãe. Existe uma regra não dita: irmãs são proibidas. Ponto final.
Então, em vez de admitir que eu era atraído por ela, comecei a afastá-la. Zoando, provocando, chame como quiser. Era mais fácil fazer o papel de idiota do que deixar alguém—incluindo ela—adivinhar como eu realmente me sentia.
E ao longo dos anos, essa máscara ficou.
Agora todo mundo, incluindo a Jessa, acredita que eu realmente sou esse cara. Aquele que aponta a manteiga extra dela, ou faz piadinhas na cafeteria.
Mas por baixo disso? Toda vez que digo algo, toda vez que vejo sua reação, há uma outra camada.
Estou olhando para a boca dela.
Estou olhando para os olhos dela.
Estou pensando coisas que não deveria pensar.
Semana passada foi a pior.
Estávamos na casa do Jackson, esparramados no sofá, assistindo a gravações. Jessa entrou com uma tigela de pipoca, fingindo que não se importava se comêssemos tudo. Ela sentou no chão, encostada na mesa de centro, as mangas do moletom cobrindo as mãos.
E quando ela riu—realmente riu de um comentário bobo na TV—me atingiu como um capacete nas costelas.
Eu não ouvia aquele riso há muito tempo.
Não era afiado ou defensivo. Não estava tentando se esconder. Era apenas... real.
Eu não conseguia parar de olhar.
E então ela olhou para cima, me pegou olhando, e tudo dentro de mim se apertou. Porque por um segundo, eu juro que ela sabia.
Sabia que eu estava observando.
Sabia que talvez, por baixo de toda a provocação, eu a quisesse.
A pior parte?
Eu não quero parar.
Digo a mim mesmo que deveria. Que ela merece mais do que ser um segredo que eu enterro sob sarcasmo. Que o Jackson me mataria se soubesse.
Mas então ela me encara do outro lado da mesa, ou responde com alguma réplica ardente, e é como gasolina em um fósforo. Eu não consigo parar.
É como se quanto mais me aproximo do limite, mais quero ver o que acontece se eu pular.
O que acontece se eu parar de me esconder atrás das piadas e simplesmente disser.
Que eu gosto do jeito que ela fica com camisetas largas. Que eu noto como ela coloca o cabelo atrás da orelha quando está nervosa. Que já pensei em como a boca dela se sentiria contra a minha mais vezes do que posso admitir.
Que a razão pela qual eu a irrito não é porque ela é sensível.
É porque ela me faz sentir exposto.
E a única maneira que sei lidar com isso é fazendo-a sentir o mesmo.
Deitado aqui agora, olhando para o teto no escuro, sei que estou ferrado.
Porque mais cedo ou mais tarde, não vou conseguir continuar fingindo.
E quando isso acontecer, tudo—minha amizade com Jackson, o time, o equilíbrio frágil que todos nós construímos—pode explodir.
Mas a verdade?
Se isso significar que Jessa finalmente me veja do jeito que eu a vejo...
Eu mesmo posso acender o fósforo.
